Design de sistemas para a sustentabilidade

Ao falarmos em design sustentável é importante discutir a evolução das abordagens utilizadas a fim de reduzir os impactos ambientais da cadeia produtiva. Desde o surgimento dos primeiros debates sobre a temática ambiental, o designer tem tido responsabilidade cada vez maior, uma vez que deve pensar em soluções sustentáveis no desenvolvimento de projetos, prevendo a redução de impactos ambientais ao longo de todo o ciclo de vida. As ações passaram de remediação (chamadas soluções end-of-pipe, por serem de fim de linha de produção) para prevenção da poluição, ou seja, a preocupação voltou-se para o controle de danos, já na gênese do processo.
No início do século XX, foram difundidos os conceitos de ecodesign e ciclo de vida, como uma abordagem que contempla a preocupação do designer com todas as etapas do ciclo de vida do produto, desde a extração de matéria-prima até o descarte. O ecodesign é uma estratégia de início de processo, uma vez que as empresas que o adotam devem agir já na seleção de recursos, buscando minimizar os impactos ao optar por matéria-prima renovável, por exemplo. No que diz respeito à fase de produção, pode-se pensar em processos que utilizam menos água e energia, bem como reduzam a emissão de poluentes.
Quanto à distribuição, sugere-se a redução de embalagens, ou diferentes formas destas serem reaproveitadas, ou, ainda, diferentes materiais como os biodegradáveis. Também, deve-se prever a questão do transporte e deslocamento, que demandam energia e poluem o meio-ambiente. Em relação ao uso e descarte, busca-se o prolongamento do tempo de vida dos produtos, através da manutenção e reparação, ou até mesmo da concepção de produtos de qualidade que tenham durabilidade. Quando não houver mais condições de uso, na etapa final, os produtos podem ser reciclados ou reaproveitados. É importante pensar em produtos que possam ter seus componentes separados, para fins de reciclagem e reaproveitamento.
Figura1 – Roda de Ecoconcepção – opções relativas a todas as etapas do ciclo, com 
sensibilização de todos os atores envolvidos. Fonte: Kazazian (2005)

Hoje, no entanto, discute-se uma nova abordagem de design sustentável conhecida como design de sistemas para sustentabilidade. Para Vezzoli (2010) esta abordagem, também conhecida por sistema produto-serviço (PSS), considera o produto como um sistema, que integra várias partes, cada qual com seu impacto no meio-ambiente. O foco desloca-se do produto físico para a satisfação de uma demanda de bem-estar. Ao se optar pela estratégia de PSS, atua-se de forma sistêmica, abrangendo o ciclo de vida do produto, e propondo a integração de todos os atores envolvidos na cadeia produtiva. Vezzoli (2010) argumenta que tanto o ecodesign quanto o PSS propõem a redução de impactos ao longo do ciclo de vida, no entanto, na primeira abordagem o interesse nesta redução é relacionado ao ator envolvido em uma fase específica de transformação, ou seja, existe pouca interação entre os atores (fornecedores de matéria-prima, produtores, distribuidores, consumidores, etc.).
Em contrapartida, o PSS propõe a integração entre os atores/parceiros, de forma a promover a convergência de seus interesses econômicos na redução do consumo de recursos. Como exemplo, pode-se pensar na necessidade de lavar roupa que, para ser atendida, exige uma máquina de lavar, sabão em pó, água, eletricidade, serviço de manutenção, etc. Sob a perspectiva do ecodesign, os produtores da máquina de lavar somente se preocuparão em reduzir o consumo de recursos na fase de produção da máquina, que lhes dizem respeito. A eles não interessa economicamente reduzir o consumo de recursos durante as etapas posteriores, como a quantidade de sabão, água e energia (uso) que serão utilizadas; bem como questões relacionadas à distribuição e descarte do equipamento. Já o PSS propõe uma visão sistêmica e integrada.
O designer pode atuar em quatro níveis, com vistas à sustentabilidade: redesign ambiental do já existente; projetos de novos produtos ou serviços que substituam os atuais; projetos de novos produtos-serviços intrinsecamente sustentáveis e a proposta de novos cenários que correspondam ao estilo de vida sustentável. (MANZINI;VEZZOLI, 2002).  Pode-se relacionar o ecodesign ao primeiro nível, com caráter mais técnico e que não exige mudança radical no estilo de vida da sociedade. Já o PSS enquadra-se nos níveis mais estratégicos, de produtos-serviços intrinsecamente mais sustentáveis e desmaterialização do consumo, na busca de resultados socialmente aceitos e favoráveis ao meio-ambiente.

Figura 2 – Níveis de interferência do design e evolução das abordagens
Fonte: adaptado de Manzini e Vezzoli (2002)

As discussões a respeito do design de sistemas para sustentabilidade são recentes e, para que as estratégias referentes a essa abordagem tenham resultado, é necessário haver mudança cultural do consumidor. Ainda, é preciso maior conhecimento quanto aos métodos de design de serviços, bem como existência de infraestrutura e tecnologia para propor a integração entre os atores envolvidos, ou seja, uma estrutura favorável à visão sistêmica. É importante continuar buscando novas formas de produção e consumo, de forma a tornar possível a transição para uma sociedade sustentável.
Referências:
KAZAZIAN, Thierry (Org.). Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo: Ed. SENAC São Paulo, 2009.
MANZINI, Ezio & VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. EDUSP /Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
VEZZOLI, Carlo. Design de sistemas para a sustentabilidade: teoria, métodos e ferramentas para o design sustentável de “sistemas de satisfação”. Salvador: EDUFBA, 2010. 

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