E agora, Mundo?

Há quase três meses, o Mundo todo esteve concentrado no evento promovido pela ONU no Rio de Janeiro: a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Rio+20. A preocupação com o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza, as mudanças climáticas, a preservação do ambiente e o progresso econômico foram temas de amplo debate entre chefes de estado, políticos, líderes comunitários, estudantes, empresários e cidadãos comuns. “Há apenas um planeta em que moramos, temos que saber mantê-lo”, sustentava a Diretora Executiva da ActionAid, Joanna Kerr, em coro com tantos outros representantes de pequenos ou grandes movimentos pró-sustentabilidade dos mais diversos países.

Seguindo de longe, mas atenta, percebi um sentimento unânime em engrandecer o Planeta, e diminuir a ganância, em se unir de forma a amar mais o outro, a querer mais a vida, a acariciar o futuro, a se apegar às crianças, a investir na educação na sua forma mais plena e, sobretudo, a exaltar o que de graça foi concedido ao Homem para que desfrutasse da vida (e não da morte) sobre o planeta. Homem e Natureza, finalmente fazendo as pazes e vivendo em harmonia, objetivo de todos… SERÁ? Será mesmo??
Pois bem, mal se passou um mês da Rio+20, e deparei-me com uma notícia que me deixou triste e perplexa: 3 mil metros quadrados de uma área considerada de Preservação Permanente foram devastados no Estado do Paraná. (Leia aqui). Então, pergunto: Estamos ou não unidos na luta pela preservação, conscientização, amor ao próximo e à vida, e não ao próprio bolso? Estamos ou não comprometidos com a responsabilidade em manter o planeta?
Mundo, vamos lutar juntos ou não? O que aconteceu, Mundo? Estávamos tão unidos, tão apaixonados, fazendo tantos planos para o futuro, lá na naturalmente bela cidade do Rio de Janeiro…

Lembrei-me do poema de Carlos Drummond Andrade, quando ele pergunta ao José, “E agora?… e tudo acabou, e tudo fugiu, e tudo mofou… o mar secou… você marcha, José! José, para onde?”.  E, me inspirando no meu amado Drummond, pergunto para o Mundo:

E agora, Mundo?
A Natureza acabou,
a luz do sol apagou,
o povo sumiu,
(morreu de fome),
e agora, Mundo?
e agora, você?
você que quis ter um nome,
zombou do sonho dos outros,
quando faziam versos ao Luar,
mas já nem pode protestar,
(não tem mais força física, nem política)
e agora, Mundo ?
Está sem água,
está sem recurso,
está sem caminho,
já não pode beber,
já não pode andar,
mentir já não pode,
a noite esfriou,
(e era para estar calor)
o dia não veio,
(a mudança climática realmente complicou)
a primavera não veio,
o riso não veio,
(vieram lágrimas)
não veio a utopia
(a realidade é dura e forte)
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
(mofou mesmo!)
e agora, Mundo ?
E agora, Mundo?
Sua doce palavra,
(mel nos lábios na Rio+20 e tantos outros encontros românticos)
seu instante de febre,
(febre e paixão)
sua gula e jejum,
(ecossistema!)
sua biblioteca,
(quanto já se leu e já se escreveu sobre você, Mundo, tão lindo!)
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
(esse é o problema, Mundo, você virou incoerente!)
seu ódio – e agora?
  (Sim, o ódio… e agora???)
Com a chave na mão
quer abrir a porta,

o existe porta;
(não existe janela também…)
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
(e tudo o que havia nele)
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
(nem Minas, nem Rios, nem Florestas…)
Mundo, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, Mundo!
(Mundo, você não morre, mas você mata… e um dia é capaz de se auto-destruir)
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
(qual?)
sem teogonia,
(claro, sem Theos… mas com agonia)
sem parede nua
para se encostar,
(e nem teto para se refugiar)
sem cavalo preto
que fuja a galope,
(ou qualquer outro animal, todos já fugiram ou morreram)
você marcha, Mundo!
Mundo, para onde?

PARA ONDE???

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