O Sétimo Continente

Em 1997 um oceanógrafo descobriu um novo continente. Infelizmente, este não é feito de terra, mas sim de plástico. Isso mesmo! Com uma extensão maior que a cidade de São Paulo, a mancha flutua entre as costas da Califórnia e do Havaí e é formada por todos os tipos de plásticos. Provenientes dos continentes e dos descartes de navios, esses resíduos são arrastados por correntes marítimas para um ponto de convergência.
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O capitão Charles Moore foi o primeiro a descobrir este lixão flutuante e fundou a Algalita Marine Research Foundation, organização dedicada à pesquisa e à conservação marinha, que estuda outras cinco ilhas de lixo.  O problema maior reside embaixo dessas ilhas: uma sopa de plástico de mais de 10 metros de profundidade, formada por pequenos e micro pedaços que são facilmente ingeridos por peixes e outros animais marinhos da cadeia alimentar.
As análises mostram todos os tipos de plásticos flutuando, desde bonecas, isqueiros, cordas, sacolas, garrafas, embalagens, redes de pesca e todos outros utensílios encontrados em qualquer loja de conveniência. Você deve estar se perguntando qual seriam as soluções para este grande problema, certo? Pois bem, ainda não existem acordos internacionais para discutir ou diminuir o problema. As questões residem em quem responsabilizar, se são os fabricantes de plásticos ou os países onde se encontram as águas contaminadas. E ainda como retirar (caso seja possível) todos esses resíduos.
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Uma solução é reciclar boa parte desse material. Porém, tal processo se torna complexo devido às colônias de animais encrustadas nos resíduos, bem como perda de propriedades devido às exposições do sol e da água salgada. Mas é possível! Alguns projetos pilotos foram desenvolvidos, como a captura desses materiais através de grandes barreiras que impedem o material de se espalhar, facilitando a remoção (planetasustentavel.abril.com.br, 2015).
A luta do capitão dos mares é nobre. Devemos investir em novas tecnologias e design que utilizem menos plásticos nos produtos e, especialmente, desenvolver e priorizar a utilização de plásticos biodegradáveis e compostáveis. Segundo o próprio oceanógrafo, “somente os seres humanos produzem resíduos que a natureza não consegue digerir” (www.algalita.org, 2015).

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Não é preciso ir até uma dessas ilhas de plásticos para entender de perto o problema. Basta olhar a Baia de Guanabara que virou um imenso depósito de lixo, e as diversas ecobarreiras no Rio de Janeiro que não suportam a quantidade diária de plásticos acumulados que correm direto para o mar.
Isto reflete um problema ainda maior no Brasil. Com apenas 13% do total de resíduos urbanos sendo encaminhados para reciclagem (Ipea, 2010), enterramos enormes oportunidades de transformar estes resíduos em matéria prima para outros produtos. Outro ponto importante refere-se às questões de logística. A concentração de indústrias de beneficiamento em determinadas regiões do país inviabiliza o transporte e destinação adequada de diversos materiais passíveis de reciclagem.
Dentre todos os tipos de plásticos comercializados para reciclagem, o PET é o que mais se destaca com relação ao volume e ao valor de venda.  As grandes indústrias automobilísticas e têxteis, que poderiam se beneficiar com a compra de resina de plástico reciclado, acabam por importar a resina crua, desvalorizando o material para comercialização na cadeia de reciclagem.
A Política Nacional dos Resíduos Sólidos está guiando o Brasil para outro patamar, ainda que a passos lentos. Se não dermos conta do nosso próprio lixo, como vamos garantir que o plástico jogado em nossos rios e mares não encalhe em uma dessas grandes ilhas no meio dos oceanos?
Diante deste cenário caótico, é nítida a urgência de um movimento dentro da comunidade internacional para incluir o tema na pauta das agendas, que merece igual atenção às mudanças climáticas e aquecimento global, por exemplo. Não podemos ver o CO2, mas podemos ver os plásticos e lixos flutuando em nossos oceanos, e também devemos agir em relação a isso.
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